[29.abril.2008]

homens que são como lugares mal situados
homens que são como casas saqueadas
que são como sítios fora dos mapas
como pedras fora do chão
como crianças órfãs
homens agitados sem bússola onde repousem

homens que são como fronteiras invadidas
que são como caminhos barricados
homens que querem passar pelos atalhos sufocados
homens sulfatados
por todos os destinos
desempregados das suas vidas

homens que são como a negação das estratégias
que são como os esconderijos dos contrabandistas
homens encarcerados abrindo-se com facas

homens que são como danos irreparáveis
homens que são sobreviventes vivos
homens que são sítios desviados
do lugar

daniel faria

(daqueles poemas que guardo há anos. como se a não partilha o fizesse ser mais um pouco meu.)

[22.abril.2008]

é só o nada a bater-nos à porta
e a mim importa-me que estejas a meu lado
enquanto o medo vai dançando à nossa volta
é só uma imagem que sonhámos doce imagem
nada que um dia após o outro reproduza
mas meu amor estaremos sempre de passagem
esquece o que eles dizem sobre um grande amor
quem podia mais querer-te como eu
nada que acredite conseguir mostrar pois é algo teu

pluto

(memórias.)

[14.abril.2008]

a cidade destrói corpos quando não reconhece a unicidade de cada um. sinto-o quando no caminho as pessoas me olham como se soubessem de cor a minha história.

[3.abril.2008]

in this hole that we have fixed
we get further and further and further
for what we must do

cat power

já não nos olhamos e a noite é fria. mas até quando amor? até quando teremos a cidade deserta dentro de nós? quando desceremos dos nossos pedestais de planos a cinco anos gisados ao pormenor e começamos a viver? quando deixaremos de querer dobrar a vida aos nossos caprichos e nos dispomos a aceitar os seus desafios como forma de crescer? quando amor, diz-me quando, voltaremos a estar juntos.

(para a sofia. com carinho.)