[26.dezembro.2008]

um homem desconhecido escreveu-me uma carta. o homem desconhecido não me falava da europa, nem de moisés, nem dos grandes ou pequenos profetas, nem do imperador da rússia, nem do seu temível antecessor, o czar ivan, o terrível. não falava do presidente da câmara, nem do vizinho sapateiro, nem da cidade próxima, nem das cidades longínquas; e também a floresta, com as suas muitas corças, onde me perco todas as manhãs, não é mencionada na carta. também não me diz nada sobre a sua mãezinha ou sobre as irmãs que certamente se casaram há muito. talvez a sua mãezinha também tenha morrido, senão como seria possível não encontrar qualquer referência a ela numa carta de duas folhas! mostra ter uma confiança muito, muito maior em mim; trata-me como um irmão, fala-me da sua miséria.

rainer maria rilke em histórias do bom deus

este livro toca-me muito para além do explicável. toca-me naquilo que é apenas meu. e será que as idiossincrasias valem a pena serem explicadas? uso-o como tributo. a um dos poucos que escreveu para além da miséria que via no seu umbigo: harold pinter.

3 comentários:

Joana Amoêdo disse...

:) gostei muito deste post.

Joana Amoêdo disse...

Coincidência mencionares Rilke depois de eu o publicar no meu blog, um dos meus poemas favoritos é dele, "A Pantera". Do Pinter só conheço uma ou outra peça de teatro, shame on me.

s. disse...

debbie harry: merci, petit cherry (: do pinter eu só tenho um livro chamado 'war'. gosto muito dele.