[20.março.2008]

the woodland spring has put the darkness from your thinking
if this town is your sinking ship
then you know where to jump.


[10.março.2008]

os portugueses não sabem falar uns com os outros, nem dialogar, nem debater, nem conversar. duas razões concorrem para que tal aconteça: o movimento saltitante com que passam de um assunto a outro e a incapacidade de ouvir. não se pode dizer que a segunda decorra da primeira, porque o inverso também é verdade. resultam as duas do facto de as falas não conseguirem atinar com um ‘tom’ comum. porquê? paradoxalmente (ou perversamente), porque o que se procura é precisamente a discordância (não a discórdia) e, antes de tudo, ouvir o som da sua própria voz – pequeninamente, a afirmação autista de si, na fala pronunciada sem a preocupação de ser ouvida ou ser compreendida (porque essa crença nem sequer se põe em dúvida, desde que eu me oiça). produz-se assim uma algazarra insuportável, com todos a falar ao mesmo tempo, cada um com a sua veemência particular sem dar a devida atenção aos outros, seus ‘interlocutores’.
(…) todos se esganiçam uns diante dos outros, como se o facto de se ser ouvido e compreendido não tivesse importância. já não há ‘mensagens’, há apenas ‘barulho’. tem de concluir-se que interessa somente o acto de falar, fundando-se, certamente, na crença mágica de que falando e continuando a falar se força o auditório a aceitar os seus argumentos. ou, mais prosaicamente, elevar a voz e ser o último a falar equivale a ganhar a discussão.

josé gil