[10.julho.2008]

tinhas que voltar. logo agora que o fogo que sentia por ti se extinguira, que me conseguia enganar e fazer acreditar que não, as coisas não poderiam ter sido diferentes e que não poderia ter existido nada mais do que existiu. um tu e um eu desconhecidos que colidiam ocasionalmente, que exigiam existir no mesmo tempo e no mesmo espaço. coisa nenhuma à qual insistíamos em chamar amor.
tinhas que voltar. logo agora que sentia no céu a chegada do dia em que o meu corpo apagaria as memórias que teimam em não querer partir.
roubaste-me o sono, outra vez. não foi preciso muito, um suposto engano foi o suficiente para atear labaredas destruindo o pouco que conseguira reconstruir em meu redor.
e tudo custa mais. custa mais o levantar, o adormecer, o existir. todas as minhas energias são gastas em tentar não te lembrar.
o vazio que tenho no peito pesa mais que o habitual. sinto o mundo desabar e sou o único a aperceber-me disso. tento agarrar o nada como agarraria o tudo, em vão.
por vezes sonho. sonho que alguém chega, me afaga os cabelos, pega nos meus sonhos, quantos deles partidos, e me faz crer que vai ficar tudo bem.
se o mundo acabasse amanhã seria como se acabasse daqui a cem anos. ficaria demasiado por fazer. um amor por construir.
julgava-te longe. queria-te longe. a diferença entre as duas era inexistente. acreditei que podia ser verdade porque assim me convinha.

(excerto de um suposto inicio de livro cuja existência se tinha varrido da minha memória. creio que foi escrito em 2004. outros excertos se seguirão.)

14 comentários:

Unknown disse...

lindo...
cada palavra, cada frase respira sentimento(s)...

já li e reli o texto, imaginei encontros e desencontros...
vou aguardar então, por novos excertos! ;)

bjinho*

Filipa disse...

Bonito. Doloroso.

É difícil quando vemos reacender o fogo que tanto nos custou extinguir... A cor e o calor mesmo à nossa frente, indomáveis. À espero que sucumbamos ao seu poder...

*

anya disse...

Bonito e tão verdade...

telma disse...

não havia melhor maneira de me descrever neste momento do que com este texto.
awwww.



fico a espera dos outros excertos ^^

*

Telma Teixeira disse...

gostei=)

LM,paris disse...

bonjour s.
intenso.
já vivi isto assim, criar as distâncias, ficamos sempre tao perto e há sempre o sulco das lágrimas a quererem vingar.
sim, na tojeira, quero lá voltar vou fazer a proposta á graça, conheces?
fiz uma residência
" a catharsis do amor".
estou em portugal, férias.
beijos LM
goste muito do texto, esperamos mais, entao?

Andreia disse...

e existem momentos nesse 2004 que são tão actuais…

Maria disse...

Soberbo. E empático (infelizmente talvez).

rummy_ disse...

estas palavras deixam imaginar/recordar/viver histórias.

é incrível como construções tão complicadas podem ruir em tão pouco tempo.

fico à espera de mais coisas bonitas para ler ^^*

Joana Amoêdo disse...

Gostei muito.

s. disse...

liliana: (: no post de cima há outro, ainda há para lá mais alguns para aqui colocar*

*f: sinceramente é algo que já não faz grande sentido para mim actualmente mas já fez e muito, por isso a minha resposta dessa altura seria imensamente diferente da de hoje: tudo é desafio para nos tornarmos melhor pessoas, até as situações que nos fazem sofrer.

anya: quanto a ser bonito é me difícil responder, não porque não gosto do que lá está escrito mas porque faz sentido para mim, quanto ao ser verdade é como eu disse à *f, talvez fosse para mim mas agora já não é.

telma: se nele te revês então posso-te dizer que neste momento é mais teu que meu.

telma teixeira: (:

lm,paris: conheço o centa de nome. espero que as férias tenham sido produtivas*

andreia: às vezes parece que andámos durante séculos e quando olhamos para trás demos apenas alguns passos, mas vou continuar a caminhar*

dr. strangeluv: felizmente claro. nem que seja para provar ao ego que há mais gente que sofre.

rummy_: gosto quando isso acontece, quando quem lê consegue viver o que escrevi.

debbie harry: (:

ivone disse...

é para quando esse livro?

fico à espera...

s. disse...

ivone: duvido que seja para algum dia. daqueles projectos que ficaram pelo caminho.

s. disse...
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