[14.setembro.2008]
dois homens abraçam-se à saída do terminal. o tempo húmido e quente obriga os trabalhadores da construção em frente a parar mais vezes do que o previsto. em países distantes guerras eclodem e crianças são mortas ao som dos tambores da democracia. mas aqui, tão longe, isso não importa e assim os sapatos continuam a pisar a calçada no mesmo passo complacente.
daqui se extrai a primeira divisão no mapa da vida: um traço de giz invisível, que se transforma em abismo, entre um cá isolado de tudo e onde nada parece acontecer, e um lá onde tudo acontece mas demasiado longe para ter algum impacto ... cá. corpos abatidos caem sobre a terra lamacenta, lá, e cá a resposta a essa barbárie é directa: muda-se de canal e sossegam-se as consciências.
além do espaço dividimos o tempo: exigimos viver no quotidiano onde nada acontece e nada magoa (mas o nada magoa), enquanto sonhamos com a vida das decisões importantes, na qual nos sentimos felizes e realizados. mas quem tem tempo para ser feliz quando o jantar está por fazer? e lá seguimos nós, em piloto automático, pela estrada desenhada em gabinetes ministeriais.
e por entre as frechas, dessas divisões aritméticas, vai-se esvaindo a essência da vida.
no lar por detrás do terminal, um homem à beira da morte pega na mão da sua amada e diz-lhe, com os olhos cobertos de medo: beija a criança que há em mim.
daqui se extrai a primeira divisão no mapa da vida: um traço de giz invisível, que se transforma em abismo, entre um cá isolado de tudo e onde nada parece acontecer, e um lá onde tudo acontece mas demasiado longe para ter algum impacto ... cá. corpos abatidos caem sobre a terra lamacenta, lá, e cá a resposta a essa barbárie é directa: muda-se de canal e sossegam-se as consciências.
além do espaço dividimos o tempo: exigimos viver no quotidiano onde nada acontece e nada magoa (mas o nada magoa), enquanto sonhamos com a vida das decisões importantes, na qual nos sentimos felizes e realizados. mas quem tem tempo para ser feliz quando o jantar está por fazer? e lá seguimos nós, em piloto automático, pela estrada desenhada em gabinetes ministeriais.
e por entre as frechas, dessas divisões aritméticas, vai-se esvaindo a essência da vida.
no lar por detrás do terminal, um homem à beira da morte pega na mão da sua amada e diz-lhe, com os olhos cobertos de medo: beija a criança que há em mim.
7 comentários:
Quando arranjares tempo e vires algo que te leve a uma escrita mais crítica, avisa-me. Devias fazer parte do Linha de Ariadne, já andava para te falar nisso. Gostei muito deste texto, e sente-se o espaço mais aconchegante agora. Também senti isso quando tornei o meu blogue privado. Que bons ventos te/nos acompanhem!
Tudo parece estar demasiado longe, distante de nós... muitas vezes, somos nós que mantemos as coisas assim. Esquecemos de sentirmo-nos vivos na nossa própria vida e vamos-nos arrastando pelos dias que passam sem emoção. Pensamos que lutar pela felicidade e dispensar tempo nisso é ridiculo. Mas não é. Nada mais vale a pena. Preservar sempre a criança que já fomos e que temos de continuar a ser. E muitos dizem que quem defende isto é louco. Mas não são. :) Gostei do texto e acabei por alongar-me. Obrigada por me dares a oportunidade de continuar a visitar-te. Um beijo imenso*
é bom voltar a ler-te :)
"beija a criança que há em mim"... simplesmente perfeito. Lindo!
'We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much that we crash into each other just so we can feel something.'
o nada é o que mais magoa por vezes. o nada. estamos sempre a espera de algo mais e quando percebemos que não há mais, magoa.
enfim, este texto está fantástico. *
"e por entre as frechas, dessas divisões aritméticas, vai-se esvaindo a essência da vida"...
já li e reli este teu texto muitas vezes, em silêncio... ainda hoje não encontro palavras pa comentar... e talvez nem seja preciso...
"beija a criança que há em mim"...
porque está tudo dito
bjinho*
debbie harry: agradeço o convite mas a verdade é que nunca consegui fazer criticas desse género. falta-me a capacidade crítica sobre temas mais abstractos. talvez um dia ( :
hannah: 'pensamos que lutar pela felicidade e dispensar tempo nisso é ridículo.' não acreditar o quanto tenho falado e pensado sobre isso. as pessoas estão tão envolvidas no seu dia a dia que se esquecem do porquê de tudo. precisam de ser acordadas.
menina tóxica: é bom ouvir isso. infelizmente a escrita parece que já passou e não há volta a dar-lhe.
diana: ( :
telma: essa citação do crash é muito certa. todos querem viver mas ninguém procura entender o como.
liliana: às vezes gostava de não o ter escrito. era sinal de que as pessoas que via não me pareciam assim, tão vazias, estranhas na sua própria vida.
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